Figura feminina de destaque para a história de Angola, principalmente para a história de uma resistência no século XVII, Njinga Mbandi (1582-1663), o maior símbolo da resistência africana à colonização, enfrentou com tenacidade os portugueses no território angolano. O maior símbolo da resistência africana à colonização, Njinga foi uma mulher destemida que enfrentou os ataques de inimigos mais tradicionais: os jagas, um povo de guerreiros saqueadores. Ainda assim, as guerras não eram a única dor de cabeça da heroína Njinga Mbandi. Ela também teve de aturar a forte oposição interna por ser mulher e ter como mãe uma escrava – mancha grave do seu perfil, já que todo o poder, no reino, baseava-se nas relações de parentesco.
Ana Joaquina, nome adoptado à Njinga Mbandi, após o baptismo, foi a rainha (Ngola, origem da denominação Angola) do Reino do Ndongo entre 1624 e 1626 e fundadora do Reino da Matamba, que reinou de 1631 até a sua morte em 1663.
Njinga Mbandi entrou para a história como combatente audaciosa (respeitada pelos portugueses), exímia estrategista militar e diplomata astuciosa, chefiou pessoalmente o exército até aos 73 anos de idade. Ela era tão forte que, de tal sorte, Angola só viria a ser completamente dominada depois da sua morte, aos 81 anos.
Anos depois, já coroada, ela realizou a sua mais bem-sucedida manobra política: a união com os terríveis jagas. Para isso, teve de adoptar muitos costumes estranhos à cultura do Ndongo, como os rituais de canibalismo, que ajudavam a manter os soldados animados para a batalha. Os jagas eram especialmente perigosos: combatiam até o último homem e a covardia era punida com a morte. Diz a lenda que em certos rituais, Njinga se vestia de homem e obrigava os seus inúmeros amantes a se fantasiarem de mulher. A sua fama era mesmo a de subverter tradições, provavelmente uma forma de reafirmar o próprio poder em uma sociedade que não aceitava uma mulher como soberana.
Quando ela morreu, em 1663, foi o irmão dela, Kia Mbandi, quem assumiu o trono. Começou, então, uma agitada luta pelo governo do Ndongo. Por isso, uma das primeiras medidas de Kia foi matar o filho único de Njinga, o seu potencial concorrente.
Foi ele, o seu próprio irmão, quem abriu as portas para a brilhante carreira diplomática da rainha. Em meio à crise, Kia precisava de alguém capacitado para negociar com os portugueses e resolveu pedir ajuda à irmã. Ela, então, partiu para Luanda com a missão de negociar um acordo de paz com os invasores. Foi recepcionada em grande estilo, com salvas de canhões, soldados perfilados e tapetes cobrindo toda a extensão do trajecto. Mas, quando se encontrou com o governador, notou que havia somente uma cadeira no recinto, sobrando para ela algumas almofadas no chão. Njinga imediatamente ordenou que uma escrava se ajoelhasse e sentou sobre ela, para não se inferiorizar.
Também não faltam contradições curiosas em sua biografia. Njinga lutou contra a escravidão do seu povo, mas vendeu os próprios escravos – prisioneiros de guerra – para os portugueses. Defendeu a religião do seu reino, mas adoptou muitos costumes católicos. Abraçou uma cultura diferente só para aproveitar o poderio militar dos jagas. Tinha tudo para fracassar, mas tornou-se uma das maiores governantes da história de África. Por fim, conseguiu manter a independência do seu povo durante todo o reinado e hoje permanece uma figura central na cultura de Angola.
Portanto, na história de um povo, há personalidades, cujas obras as tornam figuras incontornáveis. Por conseguinte, é inquestionável a capacidade de a mulher Angolana assumir posições de liderança e muitas vezes em contextos adversos. Essa pujança e forte estrutura mental são reveladoras de qualidades em que sobressai uma inteligência “sui generis” e espírito guerreiro excepcionais, atributos com provas dadas de sagacidade, marcadamente, secular.
Um dos expoentes máximos dessa trajectória de lutas incansáveis em múltiplas facetas dispensa apresentações, pois a sua exemplar e inspiradora história é sobejamente conhecida. O seu excepcional desempenho diplomático, político e militar, continua a ser objecto de estudo e pesquisas no nosso país e pelo mundo a fora. Rainha Njinga Mbandi, a eterna soberana da dinastia dos Ngola. Mulher corajosa e guerreira, símbolo da resistência contra a ocupação colonial.
Texto adaptado