DISCURSO DA TOMADA DE POSSE DO MAGNÍFICO REITOR DA URNM
Excelência, Secretário de Estado do Ensino Superior,
Excelência, Vice-Governadores da província de Malanje,
Excelentíssima, Professora Tomásia Morais, Presidente do Conselho Geral, e que preside ao acto, e Distintos Membros do Conselho Geral,
Digníssimos Directores Nacionais e equiparados, que integram a Delegação do MESCTI,
Excelentíssimo Administrador Municipal de Malanje,
Dignos Deputados, pelo Círculo Provincial de Malanje,
Meritíssimo Juiz Presidente do Tribunal Provincial de Malanje,
Digna Procuradora do Ministério Público, Distintos Delegados e Directores Provinciais,
Distintos representantes da Sociedade Civil e do Sector Empresarial da província de Malanje,
Distintos representantes das Instituições de Ensino Superior Públicas e Privadas, e de Centros de Investigação sedeados nas províncias de Luanda, Kwanza Sul, Kwanza Norte e Malanje,
Digníssimos Gestores das Unidades Orgânicas da URNM,
Prezados funcionários docentes e não-docentes da URNM,
Caros estudantes,
Distintos convidados,
Minhas Senhoras e Meus Senhores,
Começo por dizer que me sinto visceralmente honrado por ter sido eleito o 1.º Reitor da Universidade Rainha Njinga a Mbande; e nesta qualidade, gostaria de agradecer a todas e a todos que hoje se disponibilizaram para estar presentes nesta Cerimónia, pois é a demonstração da Vossa estima e o testemunho da elevada consideração que vos merece a Universidade Rainha Njinga a Mbande e as funções que iremos desempenhar.
Em primeira instância, quero manifestar publicamente o meu agradecimento, ao Conselho Geral, e dessa forma a toda comunidade académica da Universidade Rainha Njinga a Mbande, pela confiança debitada em nós para o exercício de tão honrosas funções.
À minha esposa, Ana da Graça Valentim, e aos meus filhos, agradeço a compreensão pelas minhas distracções, as minhas ausências, e por serem um verdadeiro betão de suporte e apoio sem o qual nunca teria até aqui chegado. Aos meus pais Fernando Valentim, electricista aposentado dos Caminhos de Ferro de Benguela, e minha mãe Marta Mopeleko, professora aposentada do Ensino Primário, por serem a minha fonte de motivação para acreditar e ir mais longe.
Desde cedo, inculcaram aos seus filhos a necessidade de apostar nos estudos, pois, este é o único capital que nunca se perde, e que tudo resulta do nosso trabalho e da nossa resiliência. Seres de fortes convicções e marcado carácter, devo a eles o inconformismo e a vontade de lutar diante das intempéries da vida. Meus agradecimentos são extensivos aos demais membros da minha família, amigos, colegas de trabalho e a muitas pessoas anónimas que se têm mostrado úteis nessa travessia.
Excelências, Minhas Senhoras e Meus Senhores,
É muito gratificante e desafiante, pessoal e profissionalmente, assumir a liderança da URNM e faço-o com a consciência plena da grandeza da Instituição e do altruísmos que o cargo exige. Quero que saibam que assumo o cargo de Reitor desta jovem Universidade com alegria e preocupação. Com muita alegria, porque vou poder levar por diante um projecto em que me revejo e acredito. Com preocupação, por causa da tamanha responsabilidade de dirigir esta Universidade que tem o nome de uma figura emblemática na história do nosso país, e além-fronteira.
Assumo-as, também, com humildade, porque sei que são muitas e muitas as pessoas que se revêem neste projecto e igualmente nele acreditam. Com alegria e humildade procurarei dar corpo às funções que agora assumo, e assim vencer a preocupação decorrente da responsabilidade do cargo. Conforta-me saber que, para responder aos grandes desafios de conduzir a URNM, contarei com a competência, o apoio dedicado e a solidariedade, em todas as horas dos Professores Osvaldo Pelinganga, e Bettencourt Munanga. Gostaria de enfatizar que, após o Processo Eleitoral que culminou com a eleição de reitor da URNM, não existem adversários nem opositores, há́ colegas que, a dado momentos do percurso, podem ter divergido.
Todos fazemos parte desta grande aventura de levar a URNM cada vez mais longe e fazê-la cada vez melhor.
Excelências, Minhas Senhoras e Meus Senhores,
Não há ninguém a mais e, portanto, ninguém se deve sentir excluído do caminho que traçámos para viver esta aventura. Vivemos tempos difíceis, tempos que nos colocam à prova, tempos que só seremos capazes de superar se o fizermos juntos, como uma comunidade de pessoas, cada um na sua tarefa e unidos pelo sentimento de tornar a nossa URNM “Uma Universidade Moderna e Reputa”, porque só assim contribuiremos para fazer Malanje melhor.
Excelências, Minhas Senhoras e Meus Senhores,
A Universidade Rainha Njinga a Mbande (URNM) é uma das três (3) novas Universidades Públicas criadas no âmbito do redimensionamento do Subsistema Público de Ensino Superior, conforme Decreto Presidencial n.º 285/20, de 29 de Outubro; estando constituída por três (3) Unidades Orgânicas, nomeadamente: o Instituto Politécnico, o Instituto de Tecnologia Agro-Alimentar e a Faculdade de Medicina. Importa, pois, frisar que, hodiernamente, ela ministra um total de 13 cursos de graduação.
Excelências, Minhas Senhoras e Meus Senhores,
Uma Universidade tem como fim a criação do conhecimento e a formação de pessoas. Este é o melhor investimento que um país pode fazer pelo seu desenvolvimento futuro e pelo bem-estar dos seus cidadãos. O conhecimento, a dúvida intelectual e a investigação científica contínua são fortes contributos proporcionados pelas Universidades à sociedade.
Neste contexto, cabe à Universidade, e, portanto, à URNM uma grande quota-parte da responsabilidade para ministrar uma educação dirigida às exigências e particularidades dos nossos tempos. As Universidades renomadas no mundo são, na sua maioria, seculares, e com muita naturalidade conseguem responder aos desafios que a sociedade hodierna as coloca, e não só. No nosso país, o Ensino Superior data há 60 anos, com idiossincrasias próprias que caracterizaram o seu percurso, e que impactam até os dias de hoje.
Sendo a URNM uma instituição que caminha rumo aos seus dois anos de existência, como poderá responder a estes desafios? Para começar a responde a esta questão recorri às sábias palavras de Peter Druker quando afirma que: “a melhor maneira de prever o futuro é criá-lo”. Isto significa que o protagonismo e o sucesso de muitas Universidades de top mundial que hoje observamos, é uma conquista, e não uma obra do acaso. Pelo que, a melhor maneira de se preparar o futuro da URNM é planejá- lo com objectivos claros e metas bem definidas.
A nossa ambição é a construção de uma Instituição de Ensino Superior reputada nacional e internacionalmente, daí o lema da nossa candidatura ter sido “Por uma Universidade Moderna e Reputada” Moderna significa: “dos nossos dias; …. inovador; avançado do ponto de vista científico ou tecnológico”; Reputado: “que tem boa fama; considerado, conceituado”. A reputação universitária é um bem valioso que algumas Instituições de Ensino Superior levaram séculos a construir. Contudo, este não tem de ser necessariamente o nosso caso.
Excelências, Minhas Senhoras e Meus Senhores,
Não tenho do cargo que agora assumo uma visão messiânica ou demiúrgica. Os dados do diagnóstico do ensino universitário angolano inserido no processo de elaboração do “Livro Branco” do Ensino Superior, numa iniciativa conjunta do Ministério do Ensino Superior, Ciência, Tecnologia e Inovação e do Banco Mundial, apresentam dados preocupantes e que devem merecer a atenção de todos os actores. Vejamos alguns dados: existem no Subsistema de Ensino Superior 11. 433 docentes, 4.096 mestres e 1.244 doutores.
No capítulo do financiamento e governança, o diagnóstico evidenciou uma redução substancial do financiamento ao subsistema ao longo dos nove (9) anos, sendo que nos últimos anos a prioridade recai para acções correntes, visando manter as instituições funcionais. No terreno, esses dados traduzem-se em falta de docentes em número e qualificação a altura das necessidades, precariedade das infra-estruturas, e condições de ensino e aprendizagem desajustadas as necessidades dos cursos, só para citar alguns exemplos. Essa é também a realidade da Universidade Rainha Njinga a Mbande.
Em função do panorama exposto e da visão que auguramos fruto da experiência de direcção na Comissão Instaladora, associado ao tempo de casa no Subsistema de Ensino Superior que permite, em grande medida, o acompanhamento por perto dos erros e acertos das Universidades Públicas mais antigas do país, e adicionando a experiência dos membros da equipe em Universidades Internacionais de renome, nomeadamente: a Universidade de São Paulo (Brasil), Institut Agro (França), North Dakota State University (Estados Unidos da América), e University of Linpopo (África do Sul); permite-nos ter os pés bem assentes no chão para com realismo e racionalidade projectar uma URNM que a médio prazo seja capaz de ombrear em pé de igualdade com outras Universidades Nacionais e além-fronteiras.
Nessa conformidade, o Programa de Acção com que nos apresentámos às eleições para Reitor, assenta em 10 eixos estruturantes, nos seguintes domínios: (1) Infra-estruturas, 2) Oferta formativa e seu alinhamento com o sector produtivo, 3) Vida estudantil, 4) Condições de ensino-aprendizagem, 5) Recursos humanos, 6) Investigação científica e extensão, 7) Cooperação e internacionalização, 8) Comunicação e imagem, 9) Promoção cultural e desportiva, 10) Gestão administrativa, financeira e patrimonial.
Infra-estruturas: Apesar de ser uma matéria de responsabilidade da tutela, a URNM como usuária final do bem, deverá envolver-se activamente na projecção do futuro Campus, fazendo com que o mesmo seja adequado às necessidades da comunidade académica. Ainda neste domínio, vamos continuar a desenvolver acções pontuais para melhorar a acomodação dos diversos serviços, mediante uma gestão parcimoniosa dos Recursos Próprios, alias, é desse jeito que temos conseguido implantar os serviços mínimos para o funcionamento da reitoria.
Oferta formativa e seu alinhamento com o sector produtivo local: Consolidar os cursos existentes, mormente, no que concerne ao pessoal docente e condições de ensino e aprendizagem; Priorizar a criação de cursos de graduação conexos aos já existentes; Prestar atenção especial aos cursos de engenharia ligados ao sector produtivo; Dinamizar a criação do Polo da URNM em Laúca; Em Face da insuficiência de quadros locais, recorrer a cooperação nacional e internacional para a abertura de cursos de pós graduação; Submeter os cursos da URNM à processos de avaliação interna e externa, como formas de garantia da qualidade.
Condições de ensino-aprendizagem: Apetrechar as salas de aula com recursos didácticos modernos, ajustados aos actuais padrões; Equipar os laboratórios didácticos e de investigação de acordo com as exigências de cada curso; Alargar o acervo bibliográfico das Unidades Orgânicas; Criar um Sistema Integrado de Gestão Bibliotecária da URNM; Consolidar a implementação do Sistema Integrado de Gestão Académica (Matamba).
Excelência, Minhas Senhoras e Meus Senhores,
Após uma breve incursão sobre os três eixos, vou-me focar para componente humana do processo: estudantes, professores e funcionários administrativos, pois que, são eles que constroem a identidade e a mundividência das instituições e uma universidade que não saiba reconhecer o trabalho do seu capital humano está a desconsiderar e a prejudicar o seu presente e a comprometer o seu futuro.
O estudante deve estar no centro do processo de ensino-aprendizagem, destacando-se como a razão de ser da Universidade e a sua força motora, pelo que, é nossa obrigação proporcionar à comunidade estudantil um ensino de qualidade, investigação de excelência, oportunidades de mobilidade, oferta cultural e apoios à empregabilidade. Aos nossos funcionários docentes e não-docentes: Actualização constante do plano de necessidades de RH junto da tutela; Elaborar planos de formação docente a nível de mestrado e doutoramento em áreas prioritárias; Capacitar o pessoal docente no domínio de técnicas de investigação científica, elaboração de projectos de investigação científica e de artigos; Capacitar os docentes e investigadores em Língua Inglesa; Capacitar o corpo docente em cursos de agregação pedagógica; Implementar planos de formação do pessoal técnico-administrativo em áreas estratégicas; Reforçar a literacia sobre os normativos jurídicos do Subsistema de Ensino Superior, e do Regime Geral.
Excelências, Minhas Senhoras e Meus Senhores,
A URNM está localizada na província de Malanje, uma região com fortes potencialidades nos sectores da agricultura, agro-indústria, turismo e extracção mineira. Tudo faremos para que a URNM se assuma como um Polo vital do desenvolvimento da província, encontrando respostas eficazes para os problemas identificados e contribuir para a sua resolução; e desse modo, nos tornarmos num mote impulsionador para a construção de uma infra-estrutura substancial de transferência de conhecimento, parcerias locais, nacionais e internacionais e empregabilidade dos seus quadros.
As acções acima citadas são apenas uma amostra ínfima da imensidão de desafios que nos esperam, há algumas que dependerão do Governo Central através do Ministério de tutela, outras que podem ser articuladas com o Governo local, porém, o génio criativo e a capacidade inovadora da liderança da Universidade associada ao comprometimento do corpo docente, administrativos e estudantes serão factores determinantes para o alcance dos objectivos.
Excelências, Minhas Senhoras e Meus Senhores,
Serei um Reitor agregador de vontades e um promotor de sinergias. Estou convicto de que serei capaz de facilitar o diálogo entre Unidades Orgânicas, dirigentes e membros da Comunidade Académica, fortalecendo, assim, a coesão interna da Universidade. As divergências, debates, caturrice, contundência são sinais de vitalidade intelectual, pelo que, jamais ousaremos em substituí-los pelo assentimento amorfo ou a paz putrefacta. No entanto, importa que da dialética dos opostos nasça um rumo convergente com a estratégia para o crescimento da Universidade e não a mera conflitualidade infecunda.
Excelências, Minhas Senhoras e Meus Senhores,
Podemos, resumidamente, afirmar que a melhoria do processo docente educativo, a investigação científica e inovação na URNM passa, indubitavelmente, pelo aumento da qualificação e capacitação dos docentes, melhoria das condições de ensino e aprendizagem e pesquisa, assim como de uma gestão parcimoniosa dos recursos financeiros e patrimoniais. A estes, deve associar-se um forte investimento nas tecnologias, e assim modernizar e inovar os processos de ensino e aprendizagem e de gestão, rumo à excelência. Como dizia um velho sábio: “Não há́ vento favorável para aquele que não sabe a que porto se dirige.”
Nós sabemos para onde queremos ir. Queremos uma Universidade de qualidade e excelência, uma Universidade contemporânea e inovadora. Porém, isso não será possível sem o envolvimento dos professores, alunos, funcionários, e de todas forças vivas de Malanje e não só. Nesse sentido, convido a todos a colaborarem nesse processo de consolidação da URNM e a renovarem o sentimento de pertença à Universidade. Pertencer é participar, é acompanhar, é viver mais a URNM.
Falar bem dela, contribuir com ela. A exemplo de Gandhi, sejamos nós a mudança que queremos para a nossa Instituição. Brilhar não é só́ a natureza do sol, das estrelas, mas é da natureza de cada um de nós que vestimos a camisa desta Instituição. Com entusiasmo, mente aberta e comprometimento todos experimentaremos o brilho interior nas nossas vidas.
Na última peça de Shakespeare escrita em 1611 – A tempestade, Próspero (duque de Milão), dizia: “Somos feitos da matéria dos sonhos”. O que acabámos de apresentar é o nosso sonho para a edificação desta jovem Universidade, ao qual empregaremos toda as nossas forças, sabedoria e inteligência para materializá-lo.
Tenho dito, e muito obrigado a todos pela atenção dispensada!