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Heroísmo e Bravura de Njinga a Mbande Esmiuçados em Conferência.

No dia 17 de Dezembro do longínquo ano de 1663, a Raínha Njinga a Mbande deixava o mundo dos vivos, após ter dedicado grande parte da sua vida a luta de resistência contra à ocupação colonial em Angola.

Para comemorar a efeméride que homenagea esta incontornável figura da nossa história, e cujo nome foi atribuído a primeira Universidade pública de Malanje, a URNM promoveu uma conferência para assinalar os 358 anos do desaparecimento físico de Sua Majestade.

O evento teve entre outros objectivos destacar a posição dos reinos do Ndongo e da Matamba, sob a liderança de Njinga a Mbande na luta contra o domínio colonial português, bem como contribuir no despertar da consciência da actual e futuras gerações sobre a necessidade de defender a integridade do solo pátrio.

Foi convidado a dissertar sobre a vida e obra da Rainha Njinga a Mbande, o docente António Guebe, Professor Associado do Departamento de História da Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Agostinho Neto (UAN) que partilhou o espólio que detém sobre a soberana do Ndongo e da Matamba, perante uma platéia que juntou distintas sensibilidades da comunidade local no dia 17 de Dezembro de 202, no anfiteatro da Faculdade de Medicina.

Tal como se pôde reter das palavras do orador, os reinos do Ndongo e da Matamba fazem parte das primeiras formações políticas que surgiram nas regiões central e austral do continente africano que se bateram de forma intransigente contra a dominação estrangeira.

Segundo o académico, reza a história que os referidos reinos constituídos no corredor do Kwanza, pelos povos ambundu, estiveram sob liderança política e militar de Njinga a Mbande entre 1623 a 1653.

O académico descreveu Njinga a Mbande como uma grande estratega militar que expandiu igualmente a acção política do reino do Ndongo a sul do Kwanza.

Com a morte do rei Ngola Kiluanje, acrescentou, o trono foi herdado pelo filho Ngola a Mbande, irmão de Njinga que exerceu forte contestação contra a presença dos portugueses e acabou por ser deposto pelos invasores na sequência dessa mesma pressão.

De acordo com o docente, antes da ascensão ao trono por parte de Njinga a Mbande, o reino do Ngongo chegou a ver coroado um rei impostor e fantoche. “Ngolari” servia os interesses dos portugueses e não estava investido de puderes tradicionais.

Com a reposição da legalidade, Njinga a Mbande tornou-se Rainha do Ngongo em 1623.
” Ela desde cedo aprendeu com o pai (Ngola Kiluanje) e com o irmão (Ngola a Mbande) que a terra estava a ser usurpada e era preciso impedir que fosse conquistada pelos colonos portugueses, acção que desenvolveu com heroísmo e valentia até a sua morte em 1663″, enfatizou.

Protagonismo da Matamba

Com a queda do reino do Ndongo em 1650, lembrou o orador, Njinga a Mbande fez um recuo estratégico para a Matamba e passou a explorar, igualmente, a sua capacidade de negociação.

“Aconselhada pelo irmão Ngola a Mbande, a soberna deslocou-se a Luanda para negociar com os portugueses, momento em que revelou ser uma mulher muito astuta, realçou.

O professor, António Guebe, recorda o episódio em que ao ser recebida pelo Governador, este tentou espezinhá-la. Não tendo oferecido uma cadeira, era suposto ela sentar-se ao chão como forma de submissão, mas Njinga, num piscar de olhos, foi correspondida por uma das acompanhantes, sobre a qual, a Rainha sentou-se, numa clara demonstração de que estavam em pé de igualdade.

Sublinhou que no auge da revolta contra a saída maciça de escravos, uma das principais causas das guerras no século XVII, fez com que Njinga Mbande optasse por esta via, de modo a travar a apetência dos portuguesas pelo tráfico, um mal que estava a fragilizar o tecido humano da população autóctone.

A par disso, reforçou o palestrante, a soberana rebelou-se e enveredou pela guerra contra os colonizadores, como protesto ao pagamento de taxas e impostos numa clara oposição a política de extorsão aos nativos.

Prosseguindo, revelou que no teatro das operações militares, o exército português sofreu significativas derrotas infligidas por Njinga a Mbande e esteve à beira do colapso na batalha de Massangano, algo que não se consumou graças aos reforços, que ainda assim,
viram-se e desejaram-se para evitar o pior.

Génese do Nacionalismo

No exercício das acções diplomáticas, Njinga a Mbande fez várias alianças e internas (com os Bângalas) e com os holandeses que tomaram Luanda em 25 de Agosto de 1641.

“Astuta como era, Njinga a Mbande conseguiu unir várias populações. Criou alianças com os amigos e inimigos dos portugueses para tirar vantagens sobre as tropas colonizadoras. Formou a coligação da Matamba, de Cassanje, dos Dembos, da Kissama na luta contra os invasores europeus, acções que deram azo a um sentimento nacionalista”, asseverou.

Rematou dizendo que em 1660, acometida de uma patologia, Njinga a Mbande converteu-se ao Cristianismo e viria a morrer aos 17 de Dezembro de 1663 aos 82 anos, em Santa Maria da Matamba.

Carlos Mendes
In Kamboma Mayele

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